Análise Junguiana

Ao considerarmos o indivíduo diante da eternidade, o aqui-agora é o ponto em que a consciência acessa essa dimensão atemporal. Se captamos padrões passados semelhantes, coerente é admitir que tenhamos segmento nessa linha em direção ao futuro. Neste momento, existimos simultaneamente no passado, presente e futuro, e todos os insights provêm de percepções de padrões de memória advindos de nosso próprio futuro, o que nos direciona no caminho evolutivo. Essa ressonância mórfica atua não só no nível de passado, com processamento de padrões semelhantes, mas também com percepção de memória futura.

Jung abordava esse tema, afirmando que, em suas experimentações relacionadas à coincidências significativas, ao lidar com o fator tempo, qualquer possibilidade de emissão de energia era excluída, como se fosse um absurdo admitir que uma situação ainda não existent possa transferir-se como fenômeno energético para um receptor do presente.


À medida que seus níveis de consciência vão ascendendo, o ser humano compreende seus estados internos como idênticos a si mesmo, como coisas suas, que estão nele, mas que não são ele. Compreende-se que pode mudar esses estados mentais de emoções por um esforço de vontade e que, do mesmo modo, é possível produzir um estado de uma natureza exatamente oposta e ainda existir no mesmo indivíduo.

Nessa condição, o sujeito se tornará consciente de uma divindade, considerando seus dois aspectos de Eu e de Ego, onde o Eu será considerado como um campo mental onde os pensamentos, idéias, emoções, sensações e outras condições mentais são produzidas. Seria uma matriz mental com capacidade de gerar, manifestando-se à consciência com poderes intrínsecos de criação. Representaria o que hoje a física conceitua como campo ou self quântico, que detém todas as probabilidades latentes da criação, gerando as progênies mentais de todas as espécies e reinos.

Exatamente esse self quântico insere a condição ontológica definida por Jung como arquetípica, que impulsiona o homem a cumprir um movimento no sentido de sua auto-realização. Este campo, para operar, necessita de informação do que chamavam vetor força-vontade, representado pelo Ego, projetando uma intenção consciente neste campo. O Ego representaria o princípio masculino (yang) e o Eu, o princípio feminino (yin). O Ego representa o aspecto de existência;  enquanto o Eu representa o aspecto de estado.


A fim de combinar o princípio da causalidade com o da finalidade, Jung abriu um espaço criativo que resgatou a possibilidade de ruptura de um sistema de repetição incessante de temas instintivos, para um processo contínuo e criador, advindo de uma dimensão arquetípica situada além do tempo e do espaço. Postulou que todo o impulso ou manifestação psíquica contém uma intencionalidade, entretanto que essa manifestação não poderia ser definida como causa, pois não poderia ser enquadrada dentro de eventos probabilísticos.

Jung explicava o fenômeno psíquico partindo de um duplo ponto de vista, causalista e finalista, o que permitia entender o sentido do ser como algo enraizado na experiência da própria existência. Entretanto, coloca o eixo causa e efeito como apenas estatisticamente válido e só relativamente verdadeiro, afirmando que o princípio da causalidade, em última análise, só pode ser utilizado de maneira relativa para explicar os processos naturais e, por conseguinte, pressupõe a existência de um ou mais fatores necessários a essa explicação. Isso seria o mesmo que dizer que a ligação entre os acontecimentos, em determinadas circunstâncias, poderia ser de natureza diferente da ligação causal, exigindo outro princípio de explicação.

Acompanhando seu raciocínio, descortina-se uma incoerência quando, partindo do experimento de Rhine, é descoberto que o estado de ânimo dos experimentadores do processo altera o resultado obtido em termos das coincidências significativas, assim como a importância da intencionalidade e da atenção para que ocorram esses eventos síncronos, mas sem considerar esses fatores como causais. Se para haver sincronicidade é necessária a intenção, a atenção e um estado emocional positivo nos experimentadores em questão, então a sincronicidade poderia estar desvinculada de um conceito causal.

Sincronicidade foi então definida por Jung como aparição simultânea de dois ou mais acontecimentos, ligados pela significação, mas sem ligação causal definida. Escolheu esse termo para designar um fator hipotético de explicação equivalente à causalidade.

Estabeleceu assim que, por falta de uma causa demonstrável, caímos na tentação de postular uma causa transcendental, sendo essa causa uma entidade não passível de ser demonstrada. Além disso, afirma que a coincidência significativa, entre dois ou mais acontecimentos, trata-se de algo além de uma probabilidade de acasos, que deve ser percebido como simples arranjos que têm sentido.